O Espiritismo

 

 

 

CONHEÇA O ESPIRITISMO


 

 

I- Introdução

II- Um Pouco Sobre o Espiritismo

III- No Tribunal da Consciência

IV- Fixando e Detalhando Um Pouco Mais

V- Indo Um Pouco Mais Além

VI- Uma Síntese Geral



I- I N T R O D U Ç Ã O


Talvez você já tenha feito perguntas como essas:

Quem sou eu? De onde eu vim? Para onde irei depois da morte? E o que há depois dela?

Por que uns sofrem mais do que os outros? Por que uns têm determinada aptidão e outros não?

Por que uns nascem ricos e outros pobres? Alguns cegos, aleijados, débeis mentais, enquanto outros nascem inteligentes e saudáveis? Por que Deus permite tamanha desigualdade entre seus filhos?

Por que uns, que são maus, sofrem menos que outros, que são bons?

A maioria das pessoas, diante da vida atribulada de hoje, não está interessada nos problemas fundamentais da existência. Antes, preocupam-se com seus negócios, seus prazeres e seus problemas particulares. Acham que assuntos como a "existência de Deus" e a "imortalidade da alma" são questões da competência de sacerdotes, de ministros religiosos, de filósofos e teólogos. Quando tudo vai bem em suas vidas, tais pessoas nem mesmo se lembram de Deus e, quando se lembram, é apenas para fazer uma oração ou ir a um templo, como se essas atitudes fossem simples obrigações das quais todas têm que se desimcumbir de uma maneira ou de outra. A religião, para elas, é mera formalidade social, alguma coisa que as pessoas devem ter, e nada mais; no máximo, será um desencargo de consciência para estar bem com Deus. Tanto assim, que muitas nem sequer alimentam firme convicção naquilo que professam, carregando sérias dúvidas a respeito de Deus e da continuidade da vida após a morte.

Quando, porém, são surpreendidas por um grande problema - a perda de um ente querido, uma doença incurável, uma queda financeira desastrosa, fatos passíveis de acontecer na vida de todo mundo -, não encontram em si mesmas a fé necessária, tampouco a compreensão para enfrentar o problema com coragem e resignação, caindo, invariavelmente, no desespero.

Onde se encontra a solução?

Há uma doutrina que atende a todos esses questionamentos. É o Espiritismo.

O conhecimento espírita abre-nos uma visão ampla e racional da vida, explicando-a de maneira convincente, e permitindo-nos inciar uma transformação íntima para melhor.

Mas o que é o Espiritismo?

O Espiritismo é uma doutrina revelada pelos Espíritos Superiores, através de médiuns, e organizada - codificada - por um educador francês, conhecido pelo nome de Allan Kardec, no século passado.

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, filosofia, ciência e religião:

Filosofia, porque dá uma interpretação da vida, respondendo a questões como "de onde eu vim", "o que faço no mundo" - é uma filosofia.

Ciência, porque estuda, à luz da razão e dentro de critérios científicos, os fenômenos mediúnicos, isto é, fenômenos provocados pelos espíritos e que não passam de fatos naturais. Todos os fenômenos, mesmo os aparentemente mais estranhos, têm explicação científica. Não existe o chamado "sobrenatural" no Espiritismo.

Religião, porque tem por objetivo a transformação moral do homem, revivendo os ensinamentos de Jesus Cristo, na sua verdadeira expressão de simplicidade, pureza e amor. Uma religião simples, sem sacerdotes, cerimoniais e nem sacramentos de espécie alguma. Sem rituais, cultos e imagens, velas, vestes especiais, nem manifestações exteriores.

E quais são os fundamentos básicos do Espiritismo?

A existência de Deus, que é o Criador, causa primária de todas as coisas. A Suprema Inteligência. É eterno, imutável, imaterial, onipotente, soberanamente justo e bom.

A imortalidade da alma ou espírito. O espírito é o princípio inteligente do Universo, criado por Deus, para evoluir e realizar-se individualmente pelos seus próprios esforços. Como espíritos, já existíamos antes do nascimento e continuaremos a existir depois da morte do corpo.

A reencarnação. Criado simples e sem nenhum conhecimento, o espírito é quem decide e cria o seu próprio destino. Para isso, é dotado de livre arbítrio, ou seja, capacidade de escolher entre o bem e o mal. Tem a possibilidade de desenvolver-se, evoluir, aperfeiçoar-se, tornar-se cada vez melhor e mais perfeito, como um aluno na escola, passando de uma série para outra, através dos diversos cursos. Essa evolução requer aprendizado, e o espírito só pode alcançá-la encarnando no mundo e reencarnando quantas vezes forem necessárias, para adquirir mais conhecimentos, através, portanto, das múltiplas experiências de vida. O progresso adquirido pelo espírito não é somente intelectual, mas, sobretudo, o progresso moral.

Não nos lembramos das existências passadas, e nisso também se manifesta a sabedoria de Deus.

Se nos lembrássemos do mal que fizemos ou dos sofrimentos pelos quais já passamos, bem como dos inimigos que nos prejudicaram ou daqueles a quem prejudicamos, não teríamos condições de viver entre eles atualmente. Pois, muitas vezes, os inimigos do passado são hoje nossos filhos, nossos irmãos, nossos pais e nossos amigos, que, presentemente, se encontram junto a nós para a devida reconciliação. A reencarnação, dessa forma, é a oportunidade de reparação, assim como também é a oportunidade de devotarmos nossos esforços pelo bem dos outros, acelerando nossa evolução espiritual. Pelo entendimento do mecanismo da reencarnação, torna-se claro que Deus não castiga ninguém. Somos nós mesmos os causadores dos próprios sofrimentos, através da lei de "ação e reação".

Todavia, nem todas as encarnações se verificam no planeta Terra. Existem mundos superiores e inferiores ao nosso. Quando evoluirmos o necessário e suficiente, teremos arregimentado as condições necessárias para renascer num planeta de ordem mais elevada. O Universo é infinito, e "na casa de meu Pai há muitas moradas", ensinou Jesus.

A comunicabilidade dos espíritos. Os espíritos são seres humanos desencarnados, e continuam sendo como eram quando encarnados: bons ou maus, sérios ou brincalhões, trabalhadores ou preguiçosos, cultos ou medíocres, verdadeiros ou mentirosos. Eles estão por toda parte. Não estão ociosos. Pelo contrário, eles têm as suas ocupações. Através dos denominados médiuns, o espírito pode comunicar-se conosco, se puder e se quiser. A comunicação se dá em conformidade com o tipo de mediunidade, sendo as mais conhecidas: pela fala (psicofonia), pela escrita (psicografia), pela visão (vidência) e a intuição, da qual todos guardamos experiências pessoais.

Como o Espírito interpreta o Céu e o Inferno?

Não há céu, nem inferno. Existem, sim, estados da alma que podem ser descritos como celestiais ou infernais. Não existem também anjos ou demônios, mas apenas espíritos superiores e espíritos inferiores, que também estão a caminho da perfeição - os bons, tornando-se melhores; e os maus, em regeneração.

Deus não se esquece de nenhum de seus filhos, deixando a cada um o mérito das suas obras. Somente dessa forma, poderemos entender a Suprema Justiça Divina.

Por que o Espírito realça a Caridade?

Porque fora dos preceitos da verdadeira caridade, o espírito não poderá atingir a perfeição para a qual foi destinado. Tendo-a por norma, compreende-se o ensinamento de que todos os homens são irmãos, e qualquer que seja a forma pela qual adorem o Criador, eles estendem-se as mãos, entendem-se e ajudam-se mutuamente.

Por que fé raciocinada?

A fé sem raciocínio não passa de superstição. Antes de aceitarmos alguma coisa como verdade, devemos analisá-la muito bem. "Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade." (Allan Kardec)

E onde podemos encontrar mais esclarecimentos sobre o Espiritismo?

Começando pela leitura dos livros de Allan Kardec:

O Livro dos Espíritos. O livro básico da Doutrina Espírita. Contém os princípios do Espiritismo sobre a imortalidade da alma, a natureza dos espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida futura e o porvir da Humanidade.

O Livro dos Médiuns. Reúne as explicações sobre todos os gêneros de manifestações mediúnicas, os meios de comunicação e a relação com os espíritos, a educação da mediunidade e as dificuldades que eventualmente possam surgir na sua prática.

O Evangelho Segundo o Espiritismo. É o livro dedicado à explicação das máximas de Jesus, de acordo com o Espiritismo e sua aplicação às diversas situaões da vida.

O Céu e o Inferno. Denominado também "A Justiça Divina Segundo o Espiritismo". Oferece o exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual. Coloca ao alcance de todos o conhecimento do mecanismo pelo qual se processa a Justiça Divina.

A Gênese. Destacam-se os temas: a existência de Deus, a origem do bem e do mal, a destruição dos seres vivos uns pelos outros, explicações sobre as leis naturais, a criação e a vida no Universo, a formação da Terra, a formação primária dos seres vivos, o homem corpóreo e a união do princípio espiritual à matéria.

Você poderá ler, ainda, os livros psicografados por Francisco Cândido Xavier, Divaldo Franco, Yvonne Pereira, e os livros de Léon Denis, Gabriel Delanne e de tantos outros autores, encontrando-se, entre eles, estudos doutrinários, romances, poesias, histórias e mensagens de alento.

Caso você tenha dúvidas sobre o que acabou de ler, e, se assim o desejar, procure um Centro Espírita, indiscutivelmente Espírita.



II- UM POUCO SOBRE O ESPIRITISMO

 

O que você conhece sobre o Espiritismo? Naturalmente já ouviu falar da Doutrina Espírita, mas na maioria das vezes de forma distorcida, vinculando-a a "ligações com o demônio", de "trabalhos de magia", de "espíritos que baixam", de "mesa branca", de "fechar o corpo" ou ainda "se não desenvolver a mediunidade, será infeliz" e até de "reencarnações em animais como castigo". Tudo falso, tudo ignorância, absoluto desconhecimento do que verdadeiramente é a Doutrina Espírita.

Saiba que a Doutrina Espírita é fruto do ensinamento de Espíritos Superiores através de médiuns (indivíduos dotados da faculdade de servirem de intermediário entre os homens e os espíritos, que nada mais são que os homens fora do corpo de carne) honestos, desconhecidos entre si e de origens diferentes, cujos ensinamentos e fenômenos foram devidamente comparados, observados e organizados por Allan Kardec, com o lançamento de "O Livro dos Espíritos", em 18/04/1857, em Paris, França.

Nem todo médium é espírita, pois que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica e independe de idade, raça, sexo, posição social, religião e estágio de desenvolvimento moral e intelectual. E nem todo espírita é médium, no sentido ostensivo do termo. Ser espírita não significa necessáriamente ter que ser médium, cuja prática é feita com muita disciplina e seriedade, respeitando-se individualidades e jamais criando especulações em torno de possíveis nomes que se apresentem.

Nem tão pouco exige o Espiritismo que quem dele tome conhecimento a ela se converta. Respeita profundamente a liberdade individual, oferece seus ensinos e deixa a pessoa livre para sua opção de continuar ou parar seus estudos sobre tais ensinamentos.

O Espiritismo está profundamente ligado ao Evangelho de Jesus, pois que estuda seus ensinamentos e recomenda a seus seguidores que apliquem o Evangelho em suas próprias vidas, reconhecendo nele o maior código de ética de comportamento existente no planeta. Usa como bandeira o lema "Fora da caridade não há salvação" , entendo aí a caridade, em toda sua amplitude e alcance, muito além da simples ajuda material, mas estendendo-a à tolerância, à benevolência, à indulgência e à prática do amor, inclusive com aqueles que lhe são contrários, recomendando o perdão, assim como o fez Jesus.

Os Centros Espíritas que o representam, refletem o conhecimento de seus dirigentes e portanto, erros e distorções devem ser creditados à falta de conhecimento dos princípios e nunca ao conteúdo da Doutrina Espírita. Porém, nestas Casas onde se estuda e divulga o Espiritismo, não há chefes ou qualquer tipo de hierarquia, embora se organizem jurídicamente, como exigem as leis do País. Na Doutrina Espírita, todos são iguais, aprendizes e o único Mestre é Jesus.

O Espiritismo não obriga a nada. A criatura é livre para agir como deseja, mas com a consciência de que todos somos responsáveis pelos próprios atos.

Portanto, nada de medo, preconceito ou submissão à tradições, inclusive familiares. Conheça o Espiritismo, até como a título de cultura geral, sem qualquer comprometimento e avalie por si mesmo, sobre seu real valor, objetivos e finalidades altamente cristãs.

Gentileza do Sr. Orson Peter Carrara - "Revista Internacional de Espiritismo" - "Casa Editora O Clarim".



III- NO TRIBUNAL DA CONSCIÊNCIA

 

Todos vivemos face ao tribunal de nossas consciências.

Atitudes, palavras, ações e pensamentos, constituem processos que vão sendo automaticamente ali arquivados para próximo julgamento.

Pensamos e, ao pensarmos, registramos no chamado subconsciente o movimento vivo da mente .

Impulsionamos o pensamento na direção desejada, como um raio certo, radioso ou escuro, emitindo assim a força viva, criativa, que surge do nosso eu pensante e, sob a forma que desejarmos, faremos viver a realidade do pensamento.

Quando a mente está voltada para a luz, quando o coração está afinado com a claridade infinita e bela do Grande Todo, quando o espírito sobrepujou a matéria, a força emitida do pensamento é a força construtiva, dínamo gerador de formas vivas, edificando a felicidade e a paz, a alegria, o júbilo, a saúde e o bem-estar.

Quando, porém, a força emitida nasce do mal trevoso e odiento, a irradiação, também força viva e poderosa, gera automaticamente a desarmonia e a infelicidade, o desprezo e a dor.

Conjugadas as dus forças, isto é, ora emitindo o bem, ora o mal, a mente se torna campo de batalha entre a treva e a luz, forças negativass e positivas, causando dor e paz, harmonia e guerra, saúde e doença.

Com a supremacia do bem, a paz se faz no tribunal da consciência, e a luz imortal do Amor divino é a irradiação permanente, poderosa, magnética, conferindo os dons da cura, da saúde, da harmonia.

É luz permanente ativando o meio ambiente, saturando-ode vibrações elevadas.

As trevas exteriores, representadas pelas vibrações menos dignas, não encontrarão acesso no recinto sagrado da alma que se elevou ao plano radioso do bem.

O Espírita-Cristão, face ao tribunal da sua consciência, deve meditar nas tarefas do dia a dia, no aproveitamento, no aproveitamento das horas de lazer, nos deveres bem cumpridos, na caridade ampla, metodizar seu modo de viver, aumentanto assim o seu potencial de luz para a conquista definitiva do bem eterno.

Que o Senhor das Luzes nos inspire todo os dias, quando estivermos face a face conosco mesmos, no tribunal de nossa consciência. 



IV- FIXANDO E DETALHANDO UM POUCO MAIS OS NOSSOS COMENTÁRIOS

 

A Codificação Espírita é, em síntese, a soma dos conhecimentos dados aos homens pelos Espíritos Puros, principalmente pelo Espírito da Verdade, reunidos e ordenados pelo professor Denizard Hippolyte-Léon Rivail, mais conhecido pelo pseudônimo que adotou, Allan Kardec, a partir da segunda metade do século XIX.

Como já sabemos, portanto, são cinco os livros da Codificação Espírita, cujo conjunto é também chamado de "Pentateuco Kardequiano":

 
  • O LIVRO DOS ESPÍRITOS - 1857
  • O LIVRO DOS MÉDIUNS - 1861
  • O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO - 1864
  • O CÉU E O INFERNO - 1865
  • A GÊNESE - 1868
 

Contudo, devemos também ressaltar a relevante importância dos seguintes livros de Kardec:

 
  • O QUE É O ESPIRITISMO - 1860
  • INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA - 1862
  • O PRINCIPIANTE ESPÍRITA - 1864
  • OBRAS PÓSTUMAS ("post-mortem") - 1890
 

Esses são os livros essenciais para o correto e completo conhecimento da Doutrina Espírita. Seu conhecimento e seu rigoroso estudo são imprescindíveis para qualquer Espírita que assim se considere. Eles contêm a síntese, coligida por Kardec, da Terceira Revelação,dada aos homens pelos Espíritos Puros.

Na obra de Kardec, nada se acrescenta e tampouco se subtrai.

Ela é completa, por si só. Contém, extensamente, a base doutrinária, científica e moral do Espiritismo.

Qualquer outra obra que se diga espírita, mas que se contraponha, EM QUALQUER PONTO, à Codificação, deve ser descartada de estudo e considerada NÃO-ESPÍRITA. Não há Espiritismo fora de Kardec. Sua Codificação é a própria Doutrina. Ela se basta a si mesma, por si só.

Nas obras da Codificação, encontramos as Leis que regem o Universo; e todas as perguntas ali contidas são respondidas de forma lógica e irretocável.

Nelas, encontramos quem somos, de onde viemos e para aonde vamos.

Nelas, encontramos os alicerces nos quais podemos apoiar nossas vidas.

E encontramos, ainda, muitos outros tópicos esclarecedores, de elevadíssima importância para nossa eterna existência.

 



V- INDO UM POUCO MAIS ALÉM

 

"O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações."
"O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal."
Pelo Codificador, Allan Kardec, em "O Que é o Espiritismo", Edições CELD.
 

Tão logo surge do reino animal um ser diferenciado, que articula as primeiras palavras e esboça princípios de consciência, tal ser diferencia-se dos demais pela capacidade de pensar em Deus. O homem primitivo, que agia como um animal, matava e escravizava, com a finalidade única de preservar sua existência, passa a indagar sobre a causa dos acontecimentos e sente-se sozinho, esmagado pela grandeza do Universo.

A idéia de Deus, dando início à Religião; a indagação, prenunciando a Filosofia; a experimentação, anunciando a Ciência; e o instinto de solidariedade prefigurando o amor: todos eram, ainda, pensamentos nebulosos que ecoavam entre os primeiros homens.

Surgem, então, princípios religiosos nas comunidades, onde os fenômenos da Natureza, então inexplicáveis, eram associados a divindades. Os deuses eram concebidos à semelhança dos homens, com virtudes e vícios.

Posteriormente, um povo diferencia-se dos demais, o povo hebreu, por possuir conceitos mais avançados em relação a Deus. Acreditavam no Deus único, na imortalidade da alma, e tinham grande fé na Justiça Divina. Moisés, após libertar os hebreus da escravidão no Egito, torna-se seu condutor. Recebe a Lei de Deus no Monte Sinai, contida nos Dez Mandamentos, estabelecendo a primeira grande revelação de Deus aos homens. Os Dez Mandamentos são Leis de todos os tempos e de todos os povos, o que é demonstrado pela grandeza de seus ensinamentos. Porém, para disciplinar seu povo, Moisés criou várias outras leis, aplicáveis à situação em que se encontrava, e, para dar-lhes autoridade, atribuiu a origem dessas regras de conduta a Deus, tido como enérgico e inflexível.

A moral ensinada por Moisés era apropriada ao estado de adiantamento no qual se encontravam os povos que ela foi chamada a regenerar, e esses povos, semi-selvagens quanto ao aperfeiçoamento de sua alma, de outra forma não teriam compreendido que se deve perdoar a um inimigo ou amar ao próximo como a si mesmo. Sua inteligência notável sob o ponto de vista da matéria, e mesmo no tocante às artes e às ciências, era muito atrasada em moralidade, e não se teriam convertido, portanto, sob o império de uma religião inteiramente espiritual.

Outra grande revelação de Deus estava por vir, sendo ela predita por vários profetas, na figura do Messias. Deus, na Sua Infinita Caridade, permite então ao homem ver a verdade dissipar as trevas: era Jesus Cristo, que vinha ao mundo para mostrar aos homens a extensão que deve ser dada ao amor e à consolação das aflições humanas, dizendo que aquele que perseverar até o fim será salvo.

Jesus, que é o maior exemplo de perfeição que conhecemos e cuja autoridade provinha da natureza excepcional do Seu Espírito, ensinou aos homens que a verdadeira vida não está sobre a Terra, mas no Reino dos Céus; mostrou o caminho que para lá conduz, os meios de se reconciliar com Deus, e nos preveniu sobre a marcha das coisas futuras para o cumprimento dos destinos humanos. Entretanto, não disse tudo e, sobre muitos pontos, limitou-se a depositar o germe de verdades que Ele próprio declarara não poderem ser ainda compreendidas; falou de tudo, mas, em termos mais ou menos explícitos, para se entender o sentido oculto de certas palavras, seria preciso que novas idéias e novos conhecimentos viessem dar-lhes a chave - e tais idéias não poderiam vir antes de um certo grau de maturidade do espírito humano. Porém, Jesus afirmou que enviaria outro Consolador, a fim de que ficasse eternamente conosco: o Espírito da Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, e acrescentou: "Tenho muitas coisas a dizer-vos, mas presentemente não podeis suportar. Quando vier esse Espírito da Verdade, ele vos ensinará toda a verdade, porquanto não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tenha escutado e vos anunciará as coisas porvindouras. Ele Me glorificará, porque receberá do que está em mim e vo-lo anunciará".

Conjuntamente com a vinda de Moisés e os Dez Mandamentos, e o advento da Boa Nova trazida por Jesus Cristo, outros povos da Terra também tiveram missionários a lhes revelar as Leis Divinas. Podemos citar, por exemplo: Maomé, com a sua missão entre os árabes; Buda, cuja influência atingiu grande parte da Ásia; e os filósofos Sócrates e Platão, que viveram na Grécia, a grande disseminadora de cultura naquela época. Baseados em filosofias propostas pelos enviados de Deus, vários povos estabelecidos no Oriente, nas Américas e na África desenvolveram religiões espiritualistas que se apoiavam na reencarnação e no corpo espiritual, e, em algumas dessas religiões, os fenômenos mediúnicos eram conhecidos e praticados. Todavia, a Humanidade ainda não havia atingido o grau de conhecimento necessário, e o espiritualismo era revestido pelo caráter de "maravilhoso" e de "sobrenatural".

De outras vezes, as manifestações dos Espíritos eram explicadas como "obra demoníaca" - em função de outros "princípios religiosos" então vigentes -, desencorajando e mesmo proibindo, através do poder religioso constituído, toda pesquisa e estudo que viesse esclarecer a causa daqueles fenômenos. Foi necessário que o tempo passasse; que o homem amadurecesse, e, como conseqüência, houvesse a libertação do conhecimento, para que a explicação racional de tais fatos pudesse ser encontrada.

Como conseqüência da libertação do pensamento nos tempos modernos, o homem passou a questionar os princípios filosóficos impostos de forma dogmática, até então considerados incontestáveis e indiscutíveis. De um lado, o ateísmo científico; de outro, a ilusão religiosa. O avanço alcançado pelas ciências, especialmente a química, a física e a astronomia, bem como o surgimento dos grandes pensadores, nos séculos XVIII e XIX, concorreram para mostrar a fragilidade de alguns princípios estabelecidos pela teologia. Da crença cega, chegava-se à negação absoluta.

Foi nesse clima que surgiu a Revolução Espírita, trazendo ao mundo a explicação lógica para os grandes enigmas da vida, da morte, da dor, da felicidade, etc.

As bases da Doutrina Espírita foram estabelecidas por Allan Kardec através da análise e seleção das comunicações dos Espíritos, usando os critérios da universalidade e concordância do ensino dos Espíritos, à luz da razão.

Como não poderia deixar de ser, o Espiritismo é uma doutrina de livre exame, propugnando pela fé raciocinada. Nascia uma nova filosofia, apoiada na ciência, cujas conseqüências morais, do mais alto alcance, preparam a humanidade para uma nova era, onde os valores espirituais preponderarão sobre os valores materiais.

Vemos agora, que o universo se define pela tríade Deus, Espírito, Matéria. A matéria, porém, não é somente o elemento palpável, havendo o fluido universal, intermediário entre o plano espiritual e o plano material. "Tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser átomo", como vemos na questão nº 540 de "O Livro dos Espíritos". Para chegar à perfeição, temos que passar pelas provas da existência material, através do mecanismo das reencarnações, ao qual se associa a lei de causa e efeito, que permite ao Espírito quitar-se perante sua própria consciência dos débitos que contrai, à medida que seu progresso lhe permite estabelecer a diferenciação entre o bem e o mal.

As condições de vida após a morte don corpo físico são estudadas com detalhes, ressaltando desse estudo o processo natural de aprendizado do Espírito, através da experiência. A morte, simplesmente não liberta das paixões, dos vícios, da ignorância, como também não define o seu futuro, tal como ensinava até então a teologia. Cai por terra a falsa concepção de inferno, céu e purgatório.

O Espiritismo, não tendo formas exteriores e adoração, nem sacerdotes nem liturgia, nem dogmas, não é entendido por muitos como religião.

Todavia, tendo como exemplo o Cristianismo no seu nascedouro, reconhecemos que para uma doutrina ter o caráter religioso não é necessária nenhuma estrutura complicada, senão um conjunto de princípios capazes de transformar o homem para melhor.

Podemos dizer que a Doutrina Espírita se resume nos seguintes princípios fundamentais: Deus, o Espírito e sua imortalidade, a comunicabilidade dos Espíritos, a reencarnação, a pluralidade dos mundos habitados e as leis morais.

 



VI- UMA SÍNTESE GERAL

 

01- Deus é a integência suprema, causa primeira de todas as coisas.

Deus é eterno, único, imaterial, imutável, todo-poderoso, soberanamente justo e bom. Deve ser infinito em todas as suas perfeições, pois se supuséssemos um único de seus atributos imperfeito, ele não seria mais Deus.


 

02- Deus criou a matéria que constitui os mundos; também criou seres inteligentes que chamamos de Espíritos, encarregados de administrar os mundos materiais segundo as leis imutáveis da criação, e que são perfectíveis por sua natureza.

Aperfeiçoando-se, eles se aproximam da Divindade.


 

03- O Espírito propriamente dito é o princípio inteligente; sua natureza íntima nos é desconhecida; para nós, ele é imaterial, porque não tem nenhuma analogia com o que chamamos matéria.


 

04- Os Espíritos são seres individuais; têm um envoltório etéreo, imponderável, chamado perispírito, espécie de corpo fluídico, semelhante à forma humana. Povoam os espaços, que percorrem com a rapidez do raio e constituem o mundo invisível.


 

05- A origem e o modo de criação dos Espíritos nos são desconhecidos; só sabemos que são criados simples e ignorantes, ou seja, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo, pois Deus, em sua justiça, não podia isentar uns do trabalho que teria imposto aos outros para chegar à perfeição. No princípio, ficam em uma espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência.


 

06- Desenvolvendo-se o livre arbítrio dos Espíritos ao mesmo tempo que as idéias, Deus lhes disse: "Vocês podem aspirar à felicidade suprema, assim que tiverem adquirido os conhecimentos que lhes faltam e cumprindo a tarefa que lhes imponho. Então trabalhem para seu engrandecimento; este é o objetivo; irão atingi-lo seguindo as leis que gravei em sua consciência."

Em conseqüência de seu livre arbítrio, uns tomam o caminho mais curto, que é o do bem; outros, o mais longo, que é o do mal.


 

07- Deus não criou o mal; estabeleceu leis, e essas leis são sempre boas, porque elel é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente seria perfeitamente feliz; mas os Espíritos, tendo seu livre arbítrio, nem sempre as observaram, e o mal veio de sua desobediência. Pode-se então dizer que o bem é tudo o que é conforme a lei de Deus; e o mal, tudo o que é contrário a essa mesma lei.


 

08- Para cooperar, como agentes do poder divino, com a obra dos mundos materiais, os Espíritos revestem-se temporariamente de um corpo material. Pelo trabalho de que sua existência corpórea necessita, eles aperfeiçoam sua inteligência e adquirem, observando a lei de Deus, os méritos que devem conduzi-los à felicidade eterna.


 

09- A encarnação não foi imposta ao Espírito, no princípio, como uma punição; ela é necessária ao seu desenvolvimento e para a realização das obras de Deus, e todos devem resignar-se a ela, tomem o caminho do bem ou do mal; só que os que seguem o caminho do bem, avançando mais rapidamente, demoram menos a chegar ao fim e lá chegam em condições menos penosas.]


 

10- Os Espíritos encarnados constituem a humanidade, que não está circunscrita à Terra, mas que povoa todos os mundos disseminados pelo espaço.

11- A alma do homem é um Espírito encarnado. Para auxiliá-lo no cumprimento de sua tarefa, Deus lhe deu, como auxiliares, os animais, que lhe são submissos e cuja inteligência e caráter são proporcionais às suas necessidades.


 

12- O aperfeiçoamento do Espírito é o fruto do seu próprio trabalho; não podendo, em uma única existência corpórea, adquirir todas as qualidades morais e intelectuais que devem conduzi-lo ao objetivo, ele aí chega por uma sucessão de existências, dando, em cada uma delas, alguns passos adiante no caminho do progresso.


 

13- Em cada existência corpórea, o Espírito deve cumprir uma missão proporcionl a seu desenvolvimento; quanto mais ela for rude e laboriosa, maior seu mérito em cumpri-la. Cada existência é, assim, uma prova que o aproxima do alvo. O número de suas existências é indeterminado. Depende da vontade do Espírito de abreviá-las, trabalhando ativamente em seu aperfeiçoamento moral, assim como depende do operário que tem de realizar um trabalho, abreviar o número de dias para sua execução.


 

14- Quando uma existência foi mal empregada, não aproveitou o Espírito, que deve recomeçá-la em condições mais ou menos penosas, em razão de sua negligência e de sua má vontade; assim é que, na vida, podemos ser obrigados a fazer no dia seguinte o que não fizemos no anterior, ou a refazer o que fizemos mal.


 

15- A vida espiritual é a vida normal do Espírito: ela é eterna; a vida corpórea é transitória e passageira: é apenas um instante na eternidade.


 

16- No intervalo de suas existências corpóreas, o Espírito é errante. Não por duração determinada; nesse estado, o Espírito é feliz ou infeliz, de acordo com o bom ou o mau emprego de sua última existência; ele estuda as causas que apressaram ou retardaram seu desenvolvimento; toma resoluções que tentará pôr em prática na próxima encarnação e escolhe, ele mesmo, as provas que considera mais adequadas ao seu progresso; mas algumas vezes ele se engana, ou sucumbe, não mantendo como homem as resoluções que tomou como Espírito.


 

17- O Espírito culpado é punido pelos sofrimentos morais no Mundo dos Espíritos, e pelas penas físicas na vida corpórea. Suas aflições são conseqüências de suas faltas, quer dizer, de sua infração à lei de Deus, de modo que constituem simultaneamente uma expiação do passado e uma prova para o futuro. É assim que o orgulhoso pode ter uma existência de humilhação; o tirano, uma vida de servidão; o rico mau, uma encarnação de miséria.


 

18- Há mundos apropriados aos diferentes graus de avanço dos Espíritos, onde a existência corpórea acha-se em condições muito diferentes. Quanto menos o Espírito é adiantado, mais os corpos de que se reveste são pesados e materiais. À medida em que se purifica, passa para mundos superiores moral e fisicamente. A Terra não é o primeiro nem o último, mas um dos mundos mais atrasados.


 

19- Os Espíritos culpados são encarnados em mundos menos adiantados, onde expiam suas faltas pelas tribulações davida material. Esses mundos são para eles verdadeiros purgatórios, dos quais depende deles sair, trabalhando em seu progresso moral. A Terra é um desses mundos.


 

20- Deus, sendo soberanamente justo e bom, não condena suas criaturas a castigos perpétuos pelas faltas temporárias; oferece-lhes em qualquer ocasião meios de progredir e reparar o mal que eles praticaram. Deus perdoa, mas exige o arrependimento, a reparação e o retorno ao bem, de modo que a duração do castigo é proporcional à persistência do Espírito no mal; conseqüentemente, o castigo seria eterno para aquele que permanecesse eternamenteno mau caminho, mas, assim que um sinal de arrependimento entra no coração do culpado, Deus estende sobre ele sua misericórdia. A eternidade das penas deve assim ser entendida no sentido relativo, e não no sentido absoluto.


 

21- Os Espíritos, encarnando-se, trazem com eles o que adquiriram em suas existências precedentes; é a razão por que os homens mostram instintivamente aptidões especiais: inclinações boas ou más que lhes parecem inatas. As más inclinações naturais são os vestígios das imperfeições do Espírito, dos quais ele não se despojou inteiramente; são também os indícios das faltas que ele cometeu, e o verdeiro pecado original. A cada existência ele deve lavar-se de algumas impurezas.


 

22- O esquecimento das existências anteriores é uma graça de Deus que, em sua bondade, quis poupar ao homem lembranças freqüentemente penosas. Em cada nova existência, o homem é o que ele fez de si mesmo; é para ele um novo ponto de partida - ele conhece seus defeitos atuais, sabe que esses defeitos são a conseqüência dos que tinha, tira conclusões do mal que pôde ter cometido, e isso lhe basta para trabalhar, corrigindo-se. Se tinha outrora defeitos que não tem mais, não tem mais que preocupar-se com eles; bastam-lhe as imperfeições presentes.


 

23- Se a alma ainda não existiu, é que foi criada ao mesmo tempo que o corpo; nessa suposição, ela não pode ter nenhuma relação com as que a precederam. Pergunta-se, então, como Deus, que é soberanamente justo e bom, pode tê-la feito responsável pelo erro do pai do gênero humano, maculando-a com um pecado original que ela não cometeu. Dizendo, ao contrário, que ela traz ao renascer o germe das imperfeições de suas existências anteriores, que ela sofre na existência atual as conseqüências de suas faltas passadas, dá-se do pecado original uma explicação lógica que todos podem compreender e admitir, porque a alma só é responsável por suas próprias obras.


 

24- A diversidade das aptidões inatas, morais e intelectuais, é a prova de que a alma já viveu; se tivesse sido criada ao mesmo tempo que o corpo atual, não estaria de acordo com a bondade de Deus ter feito umas mais avançadas que as outras. Por que selvagens e homens civilizados, bons e maus, tolos e brilhantes? Dizendo-se que uns viveram mais que outros e mais adquiriram, tudo se explica.


 

25- Se a existência atual fosse única e devesse decidir sozinha sobre o futuro da alma para a eternidade, qual seria o destino das crianças que morrem em tenra idade? Não tendo feito nem bem nem mal, elas não merecem nem recompensas nem punições. Segundo a palavra do Cristo, sendo cada um recompensado segundo suas obras, elas não têm direito à felicidade perfeita dos anjos, nem merecem ser dela privadas. Diga-se que poderão, em uma outra existência, realizar o que não puderam naquela que foi abreviada, e não há mais exceções.


 

26- Pelo mesmo motivo, qual seria a sorte dos cretinos, idiotas? Não tendo nenhuma consciência do bem e do mal, não têm nenhuma responsabilidade por seus atos. Deus seria justo e bom tendo criado almas estúpidas para destiná-las a uma existência miserável e sem compensações? Admita-se, pelo contrário, que a alma do idiota e do cretino é um Espírito em punição dentro de um corpo impróprio para exprimir seu pensamento, onde ele é como um homem fortemente aprisionado por laços, e não se terá mais nada que não seja conforme com a Justiça de Deus.


 

27- Em suas encarnações sucessivas, o Espírito, sendo pouco a pouco despojado de suas impurezas e aperfeiçoado pelo trabalho, chega ao termo de suas existências corpóreas; pertence então à ordem dos Espíritos puros ou dos anjos, e goza simultaneamente da vida completa de Deus e de uma felicidade imperturbável pela eternidade.


 

28- Estando os homens em expiação na Terra, Deus, como bom pai, não os entregou a si mesmo sem guias. Eles têm primeiro seus Espíritos protetores ou anjos guardiães, que velam por eles e se esforçam para conduzi-los ao bom caminho; têm ainda os Espíritos em missão na Terra, Espíritos superiores encarnados de quando em quando entre eles para lhes iluminar o caminho através de seus trabalhos e fazer a humanidade avançar. Se bem que Deus tenha gravado sua lei na consciência, Ele achou que devia formulá-la de maneira explícita; mandou primeiro Moisés, mas as leis de Moisés estavam ajustadas aos homens de seu tempo; ele só lhes falou da vida terrestre, de penas e de recompensas temporais. O Cristo veio depois completar a lei de Moisés através de um ensinamento mais elevado: a pluralidade das existências, a vida espiritual, mas as penas e as recompensas morais. Moisés os conduziu pelo medo; o Cristo, pelo amor e pela caridade.


 

29- O Espiritismo, mais bem entendido hoje, acrescenta, para os incrédulos, a evidência à teoria; prova o futuro com fatos parentes; diz em termos claros e sem equívoco o que o Cristo disse em parábolas; explica as verdades desconhecidas ou falsamente interpretadas; revela a existência do mundo invisível ou dos Espíritos, e inicia o homem nos mistérios da vida futura; vem combater o materialismo, que é uma revolta contra o poder de Deus; vem, enfim, estabelecer entre os homens o reino da caridade e da solidariedade anunciado pelo Cristo. Moisés lavrou, o Cristo semeou, o Espiritismo vem colher.


 

30- O Espiritismo não é uma luz nova, mas uma luz brilhante, porque surgiu de todos os pontos do globo através daqueles que viveram. Tornando evidente o que era obscuro, põe fim às interpretações errôneas, e deve unir os homens em uma mesma crença, porque não há senão um Deus, e Suas leis são as mesmas para todos; ele marca enfim a era dos tempos preditos pelo Cristo e pelos profetas.


 

31- Os males que afligem os homens na Terra têm como causa o orgulho, o egoísmo e todas as más paixões. Pelo contato de seus vícios, os homens tornam-se reciprocamente infelizes e punem-se uns aos outros. Que a caridade e a humildade substituam o egoísmo e o orgulho, então eles não quererão mais prejudicar-se; respeitarão os direitos de cada um e farão reinar entre eles a concórdia e a justiça.


 

32- Mas como destruir o egoísmo e o orgulho, que parecem inatos no coração do homem? O egoísmo e o orgulho estão no coração do homem porque os homens são Espíritos que seguiram desde o princípio o caminho do mal e que foram exilados na Terra como punição desses mesmos vícios; é o seu pecado original, de que muitos não se despojaram. Através do Espiritismo, Deus vem fazer um último apelo para a prática da lei ensinada pelo Cristo: a lei de amor e de caridade.


 

33- Tendo a Terra chegado ao tempo marcado para tornar-se uma morada de felicidade e paz, Deus não quer que os maus Espíritos encarnados continuem a trazer para ela a perturbação, em prejuízo dos bons; é por isso que eles deverão deixá-la: irão expiar seu empedernimento em outros mundos menos evoluídos, onde trabalharão de novo para seu aperfeiçoamento em uma série de existências mais infelizes e mais penosas ainda que na Terra. Eles formarão nesses mundos uma nova raça mais esclarecida, cuja tarefa será levar o progresso aos seres atrasados que neles habitam, pelos conhecimentos que já adquiriram. Só sairão para um mundo melhor quando tiverem merecido, e assim por diante, até que tenham atingido a purificação completa: se a Terra era para eles um purgatório, esses mundos serão seu inferno, mas um inferno de onde a esperança nunca estará banida.


 

34- Enquanto a geração proscrita vai desaparecer rapidamente, surge uma nova geração, cujas crenças serão fundadas no Espiritismo cristão. Nós assistimos à transição que se opera, prelúdio da renovação moral cuja chegada o Espiritismo marca.


 

35- O objetivo essencial do Espiritismo é o melhoramento dos homens. Não é preciso procurar nele senão o que pode ajudá-lo para o progresso moral e intelectual.


 

36- O verdadeiro Espírita não é o que crê nas manifestações, mas aquele que faz bom proveito do ensinamento deixado pelos Espíritos. Nada adianta acreditar, se a crença não faz com que se dê um passo adiante no caminho do progresso e não o faça melhor para com o próximo.


 

37- O egoísmo, o orgulho, a vaidade, a ambição, a cupidez, o ódio, a inveja, o ciúme, a maledicência, são para a alma ervas venenosas das quais é preciso a cada dia arrancar algumas hastes, e que têm como contraveneno: a caridade e a humildade.


 

38- A crença no Espiritismo só é proveitosa para aquele de quem se pode dizer: hoje está melhor do que ontem.


 

39- A importância que o homem atribui aos bens temporais está na razão inversa de sua fé na vida espiritual; é a dúvida sobre o futuro que o leva a procurar suas alegrias neste mundo, satisfazendo suas paixões, ainda que às custas do próximo.


 

40- As aflições na Terra são os remédios da alma; elas salvam para o futuro, como uma operação cirúrgica dolorosa salva a vida de um doente e lhe devolve a saúde. É por isso que o Cristo disse: "Bem-aventurados os aflitos, pois eles serão consolados".


 

41- Nas suas aflições, olhe abaixo de você e não acima; pense naqueles que sofrem ainda mais que você.


 

42- O desespero é natural para aquele que crê que tudo acaba com a vida no corpo; é um contra-senso para aquele que tem fé no futuro.


 

43- O homem é muitas vezes o artesão de sua própria infelicidade neste mundo; se ele voltar à fonte de seus infortúnios, verá que a maior parte deles são o resultado de sua imprevidência, de seu orgulho e avidez, conseqüentemente, de sua infração às leis de Deus.


 

44- A prece é um ato de adoração. Orar a Deus é pensar Nele; é aproximar-se Dele; é pôr-se em comunicação com Ele.


 

45- Aquele que ora com fervor e confiança é mais forte contra as tentações do mal, e Deus envia-lhe bons Espíritos para assisti-lo. É um auxílio que nunca é recusado, quando é pedido com sinceridade.


 

46- O essencial não é orar muito, mas orar bem. Certas pessoas crêem que todo o mérito está na extensão da prece, enquanto fecham os olhos para seus próprios defeitos. A prece é para eles uma ocupação, um emprego do tempo, mas não uma análise de si mesmos.


 

47- Aquele que pede a Deus o perdão de seus erros não o obtém senão mudando de conduta. As boas ações são a melhor das preces, pois os atos valem mais que as palavras.


 

48- A prece é recomendada por todos os bons Espíritos; é, além disso, pedida por todos os Espíritos imperfeitos como um meio de tornar mais leves seus sofrimentos.


 

49- A prece não pode mudar os desígnios da Providência; mas, vendo que há interesse por eles, os Espíritos sofredores se sentem menos desamparados; tornam-se menos infelizes; a prece exalta sua coragem, estimula neles o desejo de elevar-se pelo arrependimento e reparação, e pode desviá-los do pensamento do mal. É nesse sentido que ela pode não só aliviar, mas abreviar seus sofrimentos.


 

50- Cada um ore segundo suas convicções e o modo que acredita mais conveniente, pois a forma não é nada, o pensamento é tudo; a sinceridade e a pureza de intenção é o essencial; um bom pensamento vale mais que numerosas palavras, que se assemelham ao barulho de um moinho e onde o coração não está.


 

51- Deus fez homens fortes e poderosos para que fossem sustentáculos dos fracos; o forte que oprime o fraco é advertido por Deus; em geral, ele recebe o castigo nesta vida, sem prejuízo do futuro.


 

52- A fortuna é um depósito cujo possuidor é tão-somente o usufrutuário, já que não a leva com ele para o túmulo; ele prestará rigorosas contas do emprego que fez dela.


 

53- A fortuna é uma prova mais arriscada que a miséria, porque é uma tentação para o abuso e os excessos, e porque é mais difícil ser moderado que ser resignado.


 

54- O ambicioso que triunfa e o rico que se sustenta de prazeres materiais são mais de se lamentar que de se invejar, pois é preciso ter em conta o retorno. O Espiritismo, pelos terríveis exemplos dos que viveram e que vêm revelar sua sorte, mostra a verdade desta afirmação do Cristo: "Aquele que se orgulha será humilhado, e aquele que se humilha será elevado".


 

55- A caridade é a lei suprema do Cristo: "Amem-se uns aos outros como irmãos; ame seu próximo como a si mesmo; perdoe seus inimigos; não faça a outrem o que não gostaria que lhe fizessem". Tudo isso se resume na palavra caridade.


 

56- A caridade não está só na esmola, pois há a caridade em pensamentos, em palavras e em ações. Aquele caridoso em pensamentos é indulgente para com as faltas do próximo; caridoso em palavras, não diz nada que possa prejudicar seu próximo; caridoso em ações, assiste seu próximo na medida de suas forças.


 

57- O pobre que divide seu pedaço de pão com um mais pobre que ele é mais caridoso e tem mais mérito aos olhos de Deus que o que dá o que lhe é supérfluo, sem se privar de nada.


 

58- Aquele que nutre contra seu próximo sentimentos de animosidade, ódio, ciúme e rancor, falta à caridade; ele mente: se diz cristão, mas ofende a Deus.


 

59- Homens de todas as castas, de todas as seitas e de todas as cores, vocês são todos irmãos, pois Deus os chama a todos para Ele; estendam-se pois as mãos, qualquer que seja sua maneira de adorá-lo, e não atirem o anátema, pois o anátema é a violação da lei de caridade proclamada pelo Cristo.


 

60- Com o egoísmo, os homens estão em luta perpétua; com a caridade, estarão em paz. A caridade, constituindo a base de suas instituições, pode assim, por si só, garantir a felicidade deles neste mundo. Segundo as palavras do Cristo, só ela pode também garantir sua felicidade futura, pois encerra implicitamente todas as virtudes que podem levá-los à perfeição. Com a verdadeira caridade, tal como a ensinou e praticou o Cristo, não mais o egoísmo, o orgulho, o ódio, a inveja e a maledicência; não mais o apego desordenado aos bens deste mundo. É por isso que o Espiritismo cristão tem como máxima: FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.


 

Incrédulos! Podeis rir dos Espíritos, zombar daqueles que crêem em suas manifestações; ride, pois, se ousardes, desta máxima que eles acabaram de professar e que é sua própria salvaguarda, pois, se a caridade desaparecesse da Terra, os homens se entredilacerariam, e talvez vocês fosem as primeiras vítimas. Não está longe o tempo em que esta máxima, proclamada abertamente em nome dos Espíritos, será uma garantia de segurança e um título à confiança, naqueles que a trouxerem gravada no coração.